A satisfação é geralmente definida como uma função das percepções e de expectativas, de modo que um cliente satisfeito é aquele que percebe que o atendimento de suas necessidades é pelo menos igual àquele que se esperava. Um belo desafio de se conseguir...
E quando falamos em gastronomia, esse desafio se torna ainda mais difícil. Poderíamos definir simplesmente que a comida dever ser boa, mas para outros o ambiente é mais importante, ou a música, o atendimento, o preço ou o conjunto todo, que unidos transformaria em um produto quase que impossível de se pagar, mas desunidos se torna o pior lugar para se comer.
Mas também acreditamos que não é necessária a análise de um crítico em gastronomia para nos dizer que comida salgada é ruim, ou que massa cozida de mais fica parecendo pizza ou que não é legal banheiro com cheiro da mistura de sauna com de óleo de fígado de bacalhau.
Então, há um tempo, tive a pretensão de criar novos indicadores de qualidade para os restaurantes, que divido com vocês nesse texto.
Minha idéia era de não falar somente da comida ou da decoração. Gostaria de avaliar outras coisas, que para mim influenciam uma experiência gastronômica e podem até consertar alguns “deslizes” da cozinha ou do salão no dia da minha visita. Então vamos lá:
Indicador Sorriso – os funcionários do estabelecimento parecem felizes ou têm cara de que não receberam o salário? Sentiu que é um lugar alegre e com pessoas que sabem sua importância ou a grande maioria abaixa a cabeça quando você os olha?
Notas 5 - para sorrisos laterais ou apenas depois da gorjeta
10 - para vários sorrisos, inclusive quando não damos gorjeta.
Indicador Touché – o termo touché é usado na esgrima como um reconhecimento de um golpe. Em restaurantes é conhecido como o golpe do somelier - ou quem fizer esse papel – que insiste em te chamar uma disputa na escolha do vinho que você vai beber. Você fala tinto ele fala branco, aí você concorda e ele muda para rosé. Aí sua mulher concorda com ele e pronto... touché: você foi golpeado e o melhor e ficar calado o resto da noite.
Notas 5 - para somelier/esgrimista de terno e grava borboleta
10 - para somelier que apenas diz que está na área
Indicador Velho Testamento – o cardápio parece um Velho Testamento, com 132 páginas plastificadas, amarelas e com vários rabiscos de canela bic, mudando os preços? Ou é bonito, simples e com poucas páginas?
Notas 5 - para mais de 3 páginas, com capa de couro, almofadado e cheirando cerveja
10 - para apenas 1 ou 2 páginas
Indicador Harmonia – a música conversa com a comida, que conversa com o ambiente, que conversa com os adereços ou você se sente dentro de um maquina de lavar, como cada canto com uma decoração e tocando uma musica diferente, quando não é um televisor passando propagandas de imóveis?
Notas 5 - para estabelecimentos parecendo uma loja de Tiradentes
10 - para ambientes agradáveis, com musica e decoração harmônicos
Indicador Novidade – o estabelecimento parece ter parado no tempo. Aquele filé a parmegiana, com 1.450gr de presunto e queijo derretido é de encher os olhos, mas fazê-lo todo dia, da mesma forma e com a mesma apresentação é, no mínimo, falta de criatividade.
Notas 5 - para estabelecimentos que ainda fazem os pratos da Santa Ceia.
10 - para estabelecimentos que mudam seus pratos com certa regularidade
Eu acredito nesses indicadores, pois acredito que não é só de comida boa que se constrói uma feliz experiência gastronômica.
Vejo que os estabelecimentos precisam investir em ambiente, mas também harmonizá-los com suas propostas. Precisam buscar inovações em ingredientes, mas também na apresentação dos pratos e em seus cardápios e menus. Quero – e inclusive estou dispostos a pagar – para ser surpreendido e tentado a sair constantemente da minha “zona de conforto”, pois até o tal parmegiana, dá para se apresentar de forma inovadora:
Filé Parmegiana - By ZenCanCook
